Quando tinha uns 18 anos cheguei no momento de escolher um curso universitário. Tinha muitas dúvidas na cabeça, mas algo que me encantava eram as maçãs. Eu era revoltado com o monopólio das maças vermelhas e verdes e queria que as pessoas entendessem que havia outras cores de maçã também, que a visão somente de dois tipos de maçã era algo manipulado, devido ao interesse de poucos que podavam as necessidades de muitos. Então resolvi cursar as ciências das maçãs.
Estudei a fundo temas diversos sobre maçãs, como filosofia das maçãs, história das maçãs a evolução do suco da maçã e outros derivados, a maçã na literatura e por ai vai. Li textos críticos como a análise hermenêutica da cromologia da maçã, escrito por Hazenhark Abusticrak, a dialéctica materialista do arquivo da maçã escrito pow Erminz Ascabudabé etc...
Escrevi artigos sobre as cores da maçã e li a fio diversas teorias sobre a mesma. Conheci intelectuais da laranja e do abacaxi, mas nada mudava. As pessoas que precisavam saber das outras cores da maçã se quer entendiam o que eu escrevia e os meus trabalhos eram lidos e contemplados por aqueles que já sabiam da cromodiversidade e não faziam nada para que os outros soubessem. Na verdade, eles estavam mais preocupados em quantos artigos escreveriam para mostrarem pros seus amigos ou de que maneira era mais racional fazer uma torta de maçã.
Era algo coletivo - fágico, os estudiosos criavam estudos para outros estudiosos que criavam estudos para outros estudiosos e pronto. Todos nós estavamos na bolha da salada de frutas e não conseguíamos sair daquilo, o conselho nacional da maçã financiava todo esse tipo de loucura.
Até que um dia eu resolvi escrever um conto literário sobre as outras cores da maçã e percebi que não precisava de referências bibliográficas para ser entendido. Uma linguagem simples de fato não me permitia muita enrolação e nem que eu fingisse ser o intelectual das maçãs, mas me permitia chegar perto de qualquer pessoa e, ao invés de falar sobre a relação fragmentária pós moderna analisada por Xalemuzin, eu poderia dizer que Rosana em suas injustiças do dia a dia viu o roxo da maçã e Rosana, de fato, faz muito mais sentido do que Xalemuzin, pois ela vive e sente o que alguns se reservam o direito de complicar, fingir não viver, não sentir e se esconder atrás da frieza de análises auto masturbatórias.