domingo, 26 de abril de 2009

eu e as maçãs

Quando tinha uns 18 anos cheguei no momento de escolher um curso universitário. Tinha muitas dúvidas na cabeça, mas algo que me encantava eram as maçãs. Eu era revoltado com o monopólio das maças vermelhas e verdes e queria que as pessoas entendessem que havia outras cores de maçã também, que a visão somente de dois tipos de maçã era algo manipulado, devido ao interesse de poucos que podavam as necessidades de muitos. Então resolvi cursar as ciências das maçãs.

Estudei a fundo temas diversos sobre maçãs, como filosofia das maçãs, história das maçãs a evolução do suco da maçã e outros derivados, a maçã na literatura e por ai vai. Li textos críticos como a análise hermenêutica da cromologia da maçã, escrito por Hazenhark Abusticrak, a dialéctica materialista do arquivo da maçã escrito pow Erminz Ascabudabé etc...

Escrevi artigos sobre as cores da maçã e li a fio diversas teorias sobre a mesma. Conheci intelectuais da laranja e do abacaxi, mas nada mudava. As pessoas que precisavam saber das outras cores da maçã se quer entendiam o que eu escrevia e os meus trabalhos eram lidos e contemplados por aqueles que já sabiam da cromodiversidade e não faziam nada para que os outros soubessem. Na verdade, eles estavam mais preocupados em quantos artigos escreveriam para mostrarem pros seus amigos ou de que maneira era mais racional fazer uma torta de maçã.
Era algo coletivo - fágico, os estudiosos criavam estudos para outros estudiosos que criavam estudos para outros estudiosos e pronto. Todos nós estavamos na bolha da salada de frutas e não conseguíamos sair daquilo, o conselho nacional da maçã financiava todo esse tipo de loucura.

Até que um dia eu resolvi escrever um conto literário sobre as outras cores da maçã e percebi que não precisava de referências bibliográficas para ser entendido. Uma linguagem simples de fato não me permitia muita enrolação e nem que eu fingisse ser o intelectual das maçãs, mas me permitia chegar perto de qualquer pessoa e, ao invés de falar sobre a relação fragmentária pós moderna analisada por Xalemuzin, eu poderia dizer que Rosana em suas injustiças do dia a dia viu o roxo da maçã e Rosana, de fato, faz muito mais sentido do que Xalemuzin, pois ela vive e sente o que alguns se reservam o direito de complicar, fingir não viver, não sentir e se esconder atrás da frieza de análises auto masturbatórias.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

um dia diferente

- Amor me fala aquelas coisas sujas vai.
A voz dela entrou pelos meus ouvidos fazendo-me sentir-se diferente, olhei pros seus olhos castanhos e rosto alvo, circundado pelo seu cabelo em channel. Ela era linda. O álcool e outras substâncias reacenderam em mim, disse-lhe:
- Quero te chupar todinha.
Ela sorriu levantou meus braços e começamos a dançar, naquela boite frenética. Mas isso foi há 15 anos, agora eu morava só e acabei de acordar do que fora um sonho.... um sonho sacana, daqueles que na verdade são memórias do seu passado relembradas pelo sonho. Tussi um pouco, sentindo o incômodo ir dos pulmões äs costas, levantei-me e fui ao banheiro.
Minha barriga já tinha um tamanho considerável. Embora não fosse grande era redondinha e pra frente demais. As rugas em meu rosto somadas a uns pelos de barba mal feita me deixavam pelo menos 10 anos mais velho, o tempo me envelheceu mais do que devia. Os pelos de minha cabeça estavam cada vez mais ralos, as entradas cresciam. Levantei-me em um ato de coragem e fui direto ä duxa, não quis me ver no espelho, meu estado me deprimia.
Uma vez fui forte e jovem, com o rosto brilhante, músculos por toda parte, sem dor nenhuma no corpo, mas a vida passou por cima de mim como um trator, e agora eu era aquele pedaço de carne fodido. Até hoje não me esqueço dela, dela e tantas outras... é verdade, mas não me esqueço de Rebeca. Só Rebeca gostava de escutar nojeira, só ela me entendia, acho que me entendia tanto que cansou de mim, saiu do inferno e foi a puta que pariu... mas que saudades dela.
Saí do banho, virei meu rosto a fim de não olhar pro espelho, enxuguei-me deitado na cama, como fazia desde quando me entendo de gente. De fato a cama sempre ficava um pouco molhada, o que devia morfar alguma porra ali, mas eu não ligava. Pus uma meia e sapatos, coloquei uma calca social preta e camisa também, deixei a barba do jeito que tava e desci pra lanchonete que ficava debaixo do prédio, não tava a fim de fazer comida.
- Um misto quente e um copo de leite, Cláudia.
- Pra já, respondeu ela.
Do meu lado um cara começou a gritar no celular:
- Eu disse pra ele não mecher nessa grana! Filho da puta ta fudido!
Eu tinha quase que fobia por pessoas estressadas, irritadas ou agressivas. Quando via algo assim me afastava, senão me enervava também. Toquei no ombro do senhor, que gritava e fiz um gesto, de maneira gentil, para que ele falasse mais baixo. O alma sebosa olhou pra mim e gritou:
- Vai te fuder caralho!!!
Não me abalei com o berro. Cláudia olhou pra mim pedindo calma. Peguei um copo de vidro e estourei na cabeça do filho da puta que caiu no chão na hora, guardando ainda uns cacos enfiados em sua cabeça e melando a lanchonete de sangue. Cláudia deu um grito de doer meus ouvidos.
- Seu Louco!!!
O cara gritando pra todo mundo ouvir e eu era o louco... tudo bem...
- Calma baybe é só um talho na cabeça daqui a pouco ele fica bem.
Não é isso caralho ele é agiota, lava dinheiro é cheio de esquema. Quando ela falou isso não tive outra escolha pisei na nuca do sujeito e acabei com ele ali mesmo. Olhei pra ela e disse, se tu falar isso pra alguém tu ta morta, agora chama uma ambulância e inventa uma história bem cabulosa ai.
Saí da lanchonete sem me entender direito, nunca tinha matado alguém antes. Mas todo o stresse que guardava em mim precisava ser liberado de alguma forma. Foram momentos maravilhosos, cruéis, mas maravilhosos. Agora aquele porra nunca mais ia fazer barulho. Andei ali por perto mesmo, sentei em um banco e acendi um cigarro. Delícia de cigarro.
Não passou cinco minutos e dois sujeitos bem vestidos me cercaram e falaram:
- Entra no carro.
Por incrível que pareça, eu não relutei, qualquer coisa que me aguardasse naquele civic cedan era bem vinda.
Entrei no carro, e fiquei no acento detrás, cercado pelos dois caras. Na frente estava o motorista e, do lado deste, o que parecia ser o chefe do que quer que aquilo fosse.
- Excelente trabalho.
- ãnh? perguntei.
- Você fez parecer uma briga, nós checamos depois. Todo mundo pensou que foi uma briga e ninguém soube descrever seu rosto. Como você faz isso?
- Não faço idéia, respondi.
- Olha eu gostei do serviço e tenho mais encomendas. Aqui ta uma lista das pessoas que eu quero mortas e, do lado do nome e detalhes, o prazo de vida delas. Qualquer coisa me ligue.
O “chefe” me entregou um cheque de 20 mil reais e deixou-me no centro da cidade. Tudo aconteceu rápido demais para que eu entendesse, mas o gosto dos 20 mil em minhas mãos, não pedia muita compreensão de minha parte. Tinha arranjado um emprego onde me realizava e ganhava bem. Mataria quantas pessoas o “chefe” quisesse.