sexta-feira, 24 de abril de 2009

um dia diferente

- Amor me fala aquelas coisas sujas vai.
A voz dela entrou pelos meus ouvidos fazendo-me sentir-se diferente, olhei pros seus olhos castanhos e rosto alvo, circundado pelo seu cabelo em channel. Ela era linda. O álcool e outras substâncias reacenderam em mim, disse-lhe:
- Quero te chupar todinha.
Ela sorriu levantou meus braços e começamos a dançar, naquela boite frenética. Mas isso foi há 15 anos, agora eu morava só e acabei de acordar do que fora um sonho.... um sonho sacana, daqueles que na verdade são memórias do seu passado relembradas pelo sonho. Tussi um pouco, sentindo o incômodo ir dos pulmões äs costas, levantei-me e fui ao banheiro.
Minha barriga já tinha um tamanho considerável. Embora não fosse grande era redondinha e pra frente demais. As rugas em meu rosto somadas a uns pelos de barba mal feita me deixavam pelo menos 10 anos mais velho, o tempo me envelheceu mais do que devia. Os pelos de minha cabeça estavam cada vez mais ralos, as entradas cresciam. Levantei-me em um ato de coragem e fui direto ä duxa, não quis me ver no espelho, meu estado me deprimia.
Uma vez fui forte e jovem, com o rosto brilhante, músculos por toda parte, sem dor nenhuma no corpo, mas a vida passou por cima de mim como um trator, e agora eu era aquele pedaço de carne fodido. Até hoje não me esqueço dela, dela e tantas outras... é verdade, mas não me esqueço de Rebeca. Só Rebeca gostava de escutar nojeira, só ela me entendia, acho que me entendia tanto que cansou de mim, saiu do inferno e foi a puta que pariu... mas que saudades dela.
Saí do banho, virei meu rosto a fim de não olhar pro espelho, enxuguei-me deitado na cama, como fazia desde quando me entendo de gente. De fato a cama sempre ficava um pouco molhada, o que devia morfar alguma porra ali, mas eu não ligava. Pus uma meia e sapatos, coloquei uma calca social preta e camisa também, deixei a barba do jeito que tava e desci pra lanchonete que ficava debaixo do prédio, não tava a fim de fazer comida.
- Um misto quente e um copo de leite, Cláudia.
- Pra já, respondeu ela.
Do meu lado um cara começou a gritar no celular:
- Eu disse pra ele não mecher nessa grana! Filho da puta ta fudido!
Eu tinha quase que fobia por pessoas estressadas, irritadas ou agressivas. Quando via algo assim me afastava, senão me enervava também. Toquei no ombro do senhor, que gritava e fiz um gesto, de maneira gentil, para que ele falasse mais baixo. O alma sebosa olhou pra mim e gritou:
- Vai te fuder caralho!!!
Não me abalei com o berro. Cláudia olhou pra mim pedindo calma. Peguei um copo de vidro e estourei na cabeça do filho da puta que caiu no chão na hora, guardando ainda uns cacos enfiados em sua cabeça e melando a lanchonete de sangue. Cláudia deu um grito de doer meus ouvidos.
- Seu Louco!!!
O cara gritando pra todo mundo ouvir e eu era o louco... tudo bem...
- Calma baybe é só um talho na cabeça daqui a pouco ele fica bem.
Não é isso caralho ele é agiota, lava dinheiro é cheio de esquema. Quando ela falou isso não tive outra escolha pisei na nuca do sujeito e acabei com ele ali mesmo. Olhei pra ela e disse, se tu falar isso pra alguém tu ta morta, agora chama uma ambulância e inventa uma história bem cabulosa ai.
Saí da lanchonete sem me entender direito, nunca tinha matado alguém antes. Mas todo o stresse que guardava em mim precisava ser liberado de alguma forma. Foram momentos maravilhosos, cruéis, mas maravilhosos. Agora aquele porra nunca mais ia fazer barulho. Andei ali por perto mesmo, sentei em um banco e acendi um cigarro. Delícia de cigarro.
Não passou cinco minutos e dois sujeitos bem vestidos me cercaram e falaram:
- Entra no carro.
Por incrível que pareça, eu não relutei, qualquer coisa que me aguardasse naquele civic cedan era bem vinda.
Entrei no carro, e fiquei no acento detrás, cercado pelos dois caras. Na frente estava o motorista e, do lado deste, o que parecia ser o chefe do que quer que aquilo fosse.
- Excelente trabalho.
- ãnh? perguntei.
- Você fez parecer uma briga, nós checamos depois. Todo mundo pensou que foi uma briga e ninguém soube descrever seu rosto. Como você faz isso?
- Não faço idéia, respondi.
- Olha eu gostei do serviço e tenho mais encomendas. Aqui ta uma lista das pessoas que eu quero mortas e, do lado do nome e detalhes, o prazo de vida delas. Qualquer coisa me ligue.
O “chefe” me entregou um cheque de 20 mil reais e deixou-me no centro da cidade. Tudo aconteceu rápido demais para que eu entendesse, mas o gosto dos 20 mil em minhas mãos, não pedia muita compreensão de minha parte. Tinha arranjado um emprego onde me realizava e ganhava bem. Mataria quantas pessoas o “chefe” quisesse.

4 comentários:

Por detrás da malha fina disse...

Ei veijo, gostei! Tu devia escrever mais, nunca mais tu tinha colocado nada aqui.

Altiere Freitas disse...

Vocabulário solto, frases curtas, um linguajar que expressa apatia e uma dose de cinismo. Forma que se casa com o matéria: um pária que está pouco se fudendo para o mundo e um mundo que está pouco se fudendo pra ele. Lembrei-me de Charles Bukowski e gostei muito do “alma sebosa” , um toque regional a uma miséria universal.

Boas subjetividades!

^^

Torreão disse...

Tá do caralho, porra!
Muito bom mesmo.
Parabéns, bro.

Anônimo disse...

maravilha cara...adoro este jeito solto,sem mascaras,gosto das pessoas q dizem as coisas...adoro pornografia..adoro bukowski.

parabens passageiro!